segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PUC-SP: história de lutas democráticas



Para se ter uma real dimensão do momento em que se encontra a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( PUC-SP), uma retrospectiva a respeito da história da instituição se faz necessária. Durante o Regime Militar no Brasil, estudantes e professores da PUC-SP constituíram uma importante resistência, organizando e participando de diversas manifestações contra a ditadura. O grão-chanceler da época, Dom Paulo Evaristo Arns, admitiu professores de outras Universidades demitidos em consequência do governo vigente como Florestan Fernandes e Paulo Freire. Além disso, em meio ao regime e apesar da existência da lista tríplice, instituiu a eleição direta como forma de se escolher o reitor, fazendo da PUC a primeira universidade brasileira a eleger o reitor via voto direto de professores, alunos e funcionários. Foi por meio dessa eleição que Nadir Kfouri, foi escolhida a primeira mulher a ser reitora de uma universidade católica no mundo. Durante uma reunião da UNE na PUC, em setembro de 1977, a polícia militar, comandada pelo coronel Erasmo Dias, invadiu o campus. A professora Nadir, então reitora, defendeu seu corpo discente e docente perante as arbitrariedades do coronel. Em 1984, dois incêndios(um supostamente criminoso) danificaram o teatro da Universidade (TUCA), que até hojé tem parte de suas paredes com os resquícios do incêndio como garantia de que os danos ocasionados por um regime opressor nunca sejam esquecidos.
Conhecedora dessa memória puquiana, Marilena Chaui,  Professora titular de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da USP, afirmou, durante aula pública no período de greve, que “ A PUC tem uma historia de trabalho acadêmico e compromisso politico que faz parte do nosso patrimônio. Portanto, todos nós que comparecemos aqui, não importa de qual instituição sejamos, viemos porque nos sentimos parte da história, da memória da puc. D. Paulo Evaristo Arns abriu as portas para o movimento estudantil, mandando um recado para os donos do poder que eles não eram os donos do poder”.
Entretanto, desconsiderando a memória da instituição, no dia 13 de novembro de 2012, o grão-chanceler da PUC e cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer,nomeou a professora Anna Cintra, ultima colocada da lista triplice, como reitora,  desrespeitando pela primeira vez, após a aplicação das eleições diretas por Arns, a decisão da comunidade acadêmica.Em nome da história da PUC de defesa da democracia e contra o retrocesso que representa a decisão de Scherer, estudantes, professores e funcionários entraram em greve geral.
Para a igreja católica, a monarquia sempre foi o mais natural dos regimes políticos pois ela segue a lógica da família paternalista. Ela é uma colecão de famílias que forma uma sociedade que tem um pai, no caso o monarca. Entretanto, para Baruch de Espinosa, a democracia é o melhor dos regimes politicos, o poder absoluto porque tem como forma de realização o sujeito político que é a multidão e esse sujeito não transfere poder, ele é o detentor do poder. O poder é absoluto porque se mantém nas mãos do sujeito político que instituiu a sociedade democrática. A democracia é natural porque todos os seres humanos desejam governar e não serem governados.

O caso da PUC pode ser relacionado com diversos filósofos, entre ele, Hobbes. A perda da liberdade do homem para um soberano que não pode ter seus métodos julgados na manutenção da vida do indivíduo e do Estado fica evidente na decisão do cardeal ao desrespeitar a escolha da comunidade acadêmica. Entretanto, Rousseau afirma que o povo tem total direito de reivindicar já que a vontade geral deve ser maior que a vontade individual, logo a da comunidade universitária é maior do que a do Cardeal. Temendo a usurpação do poder por uma minoria, assim como a teme a comunidade puquiana agora, Rousseau defende a democracia como modelo ideal de sistema político, vendo este sistema como a melhor forma de a vontade geral dominar as vontades particulares. Por meio das assembléias realizadas durante a greve foi possível se presenciar a participação constante de conjunto de pessoas onde a vontade geral  atingida pelo consenso foi respeitada. Ainda segundo Rousseau, quando o governante não acata a vontade coletiva para fazer prevalecer a sua vontade individual, configura-se a corrupção, como pode ser classificado o caso da PUC.Para deixar a condição de servidão é preciso parar de servir e foi isso que o movimento grevista como um todo fez ao não acatar passivamente as decisões da Fundação São Paulo, lembrando-os de que o povo é o verdadeiro soberano. 





Pode-se relacionar o que acontece na PUC também com Montesquieu. Ao citar os três poderes(legistlativo, executivo e judiciário), permite a conclusão de que quando esses poderes se concentram sobre apenas uma entidade configura-se um governo despótico. Assim, ao desrespeitar a decisão do Consun, que invalidou a homologação da lista tríplice, e ao ignorar os votos das urnas, o Cardeal agiu como um tirano. O argumento de que a lista tríplice configura-se como um respeito a democracia é invalido pois existiam somente três candidatos o que evidencia a falta de necessidade de se ocorrem eleições caso o primeiro colocado não tivesse que ser o nomeado ao cargo de reitor. Portanto, apesar de estar dentro da legalidade(em partes, pois após a decisão do Consun a situação se alterou), a escolha do Cardeal não é legítima. Isso ocorre pois apesar da força, do amparo da lei (estatuto), o que configura a legalidade, a decisão do grão-chanceler não é legítima pois não é apoiada pela base moral advinda da cultura e dos costumes locais, no caso o da PUC. Logo,  coube à comunidade acadêmica exercer o papel de um dos três poderes de vigiar o outro poder, no caso do Cardeal, já que os melhores governos são os bem moderados.
Maquiavel pode também ser usado no caso puquiano. A Fundação São Paulo ao nomear Anna Cintra e também durante o período de greve não buscou em nenhum momento as alianças com o povo( alunos) para que estes não se virem contra ele defendida pelo autor de “O Príncipe”. Tampouco procurou fugir do ódio já que a todo momento menosprezou o movimento grevista. E por fim, não mantiveram a virtude, já que, além da decisão da Fundação, a professora Anna Cintra não cumpriu com sua palavra ao contrariar um documento assinado por ela declarando que não aceitaria o cargo de reitora caso não fosse a primeira colocada.
Por fim, pode se utilizar Foucault na avaliação da crise institucional instalada pelas ações da Fundação São Paulo. Michel Foucault, acredita em uma relação de controle a partir de instituições que disciplinam o individuo durante sua formação. Segundo ele, cada instituição tem a capacidade de ir moldando o indivíduo, tornando-o obediente, como a escola, a religião e etc. Assim, a Igreja parece querer amplificar a sua capacidade de moldar o indivíduo, tornando o mais obediente aos ideias católicos utilizando para isso não só o poder de suas igrejas, como também de suas outras instituições como as universidades que possui ao redor do mundo. Para isso, tem se evidenciado a tentativa da Igreja em retomar o controle de suas Universidades para que a intenção inicial de formação de uma elite católica possa ser reconstruída, por meio desse mecanismo de controle.
Assim, por concordar com as ideias de Vladimir Safatle, filósofo e professor universitário brasileiro(também convidado pelo movimento grevista para ministrar uma aula), de que “a ideia de universidade é vinculada à constituição de um espaço crítico de livre pensar”, de que a universidade “é a expressão social do desejo de que o conhecimento se desenvolvesse em um ambiente livre de dogmas, sem a tutela de autoridades externas, sejam elas vindas do Estado, da Igreja ou do mercado” e por interpretar que a decisão do Cardeal pode esconder interesses obscuros da Igreja para o futuro da Universidade limitando o essencial para uma Universidade de respeito e com tradições democráticas como a PUC, a comunidade puquiana se uniu para barrar a tentativa de golpe que a Fundação São Paulo vem tentando aplicar. Mais do que lutar pela tradição da PUC, se trata de respeitar o sangue e o suor derramado por professores, estudantes e funcionarios quando a PUC, segundo Marilena Chaui foi o “guarda-chuva que abrigou o Brasil durante as mais terríveis tempestades.


A Mídia e a preparação da sociedade

 A mídia, não raramente, é classificada como o quarto poder. Entretanto, essa denominação não é apenas aplicada pela capacidade da mídia de atuar como uma vigilante dos desejos da sociedade frente aos outros três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). A mídia é chamada dessa maneira também devido a sua capacidade de manipular os indivíduos, de “por as mãos”. Apesar de o receptor das informações transmitidas pelos meios de comunicação, o público, não ser um disco vazio que absorve todo o conteúdo transmitido sem contestar, já que ele tem uma realidade cultural e social ocasionada pelo ambiente que o cerca que serve como uma suposta barreira e que faz com que ele não aceite tudo que lhe é passado como verdade, as empresas midiáticas apresentam alta capacidade em influenciar o modo de pensar e agir do público, manipulando-o, ou seja, “pondo as mãos em algo”.
        John Thompson em seu livro, “A mídia e a modernidade” estuda a teoria social, criada para analisar o impacto social dos meios de comunicação e o seu papel na criação de uma sociedade moderna. Em primeira instância o autor cria o conceito das formas de interação, sendo elas a face a face (sendo a forma tradicional), a mediada (ou seja, as pessoas conseguem se comunicar por um meio de comunicação, por exemplo, o telefone) e a “quase” mediada (o ser humano recebe as informações dos meios massivos como livro, rádio, televisão, jornal. É como se os meios tivessem apenas uma direção e desprovidos de reciprocidade)



John B. Thompson

        De acordo com Thompson, a sociedade é dividida em quatro poderes. O poder político, o poder econômico, o poder coercitivo, e o simbólico. O político está relacionado ao Estado, ao governo. O econômico é a propriedade privada. O coercitivo é a força (legislativo, militar e etc). O simbólico é o poder da mídia, são os meios de comunicação.
        Para o autor, o simbólico é o mais importante dos poderes pois é por meio da existência dele que os outros acontecem, sem ele os outros não podem existir. Outros não podem existir sem o simbólico pois é por meio dos símbolos que o homem atribui sentido as coisas, inclusive, o que significa ser homem. Isso ocorre pois cada indivíduo interpreta os símbolos de determinada forma(hermenêutica), lhes dá um sentido final. É por isso que Thompson afirma que existe uma manipulação de informações e não de pessoas. O que é manipulado é a informação já que o modo como as informações são transmitidas ocorrem de acordo com o público que se deseja atingir. Um exemplo disso é o modo como a mesma noticia é transmitida nos diferentes jornais da Globo. Se no Jornal Nacional a linguagem é mais simples pois o público alvo do horário pertence à classes mais baixas, no Jornal da Globo a linguagem é mais rebuscada por se entender que naquele horário o público alvo pertence ao empresariado. Um outro exemplo disso é o fato de o público só procurar ler, assistir, o que vai de encontro com os seus pensamentos, os seus ideais. Por exemplo, alguém que têm tendências de esquerda só lê revistas como “Caros Amigo” e “Carta Capital”, mas não lê de maneira nenhuma revistas que sejam defensoras de ideologias de direita.



Pierre Bordieu
    
Já para Bordieu, o poder midiático é produto da soma do campo político com o campo econômico. Para ele, os comunicadores são manipuladores por essência, pois a maneira como os meios de comunicação são construídos os induzem a manipular sem que eles percebam o que estão fazendo. Isso ocorre pois existe uma estrutura invisível. No caso da televisão essa estrutura é a audiência. Na busca por altos índices de audiência, ou seja, de um grande público, um alto número de telespectadores, os comunicadores passam a transmitir somente aquilo que agrada ao público dos programas. Consequentemente, uma maior rentabilidade para as empresas de comunicação se torna possível, já que uma audiência maior significa um maior número de patrocinadores para o programa, além de um aumento nas cifras pagas pelos patrocinadores. Por isso que o autor afirma que o poder mídiatico é a soma do poder político com o poder econômico.


Giovanni Sartori

     Para Giovanni Sartori, os homens sofre manipulação da mídia em consequência de sua natureza. Os homens necessitam imaginar o que lhes é transmitido antes de refletirem sobre o que lhes está sendo passado. Isso acontece pois primeiro o homem visualiza a situação, depois pensa a respeito do que acabou de visualizar e somente por último busca construir um entendimento de todo o processo. Isso ocorria facilmente antes pois o homem estava habituado com as palavras, já que necessitava ter um domínio desse campo, o que facilitava a ocorrência da visualização, do pensamento e do entendimento na configuração de um processo como um todo. Entretanto, a imagem da mídia, da televisão, não permite que o processo do pensamento ocorra, fazendo com que o ser humano deixe de pensar. O “Homo Sapiens” se tornou um “Homo Videns”, ou seja, o homem deixou de pensar e passou apenas a ver. Isso pode ser percebido por meio da constante justificativa de telespectadores a respeito do baixo conteúdo dos programas a que assistem. Ao serem questionadas sobre o baixo nível intelectual dos programas, as pessoas justificam que estão apenas relaxando, que não estão pensando em nada e que portanto, não há mal algum no fato do programa ser pouco reflexivo, pouco produtivo.
     Assim, para não ser manipulado o homem precisa voltar a ser “Homo sapiens” e deixar de ser “Homo Videns” pois somente pensando é que ele poderá oferecer resistência as manipulações midiáticas.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O homem nu precisa de novas roupas



          

            No mundo contemporâneo, o poder é representado por diversas áreas como o Estado, o capital, a mídia, as ciências e etc. Esse poder encontra-se no interior das pessoas, tão intrínseco a elas que se tornou impossível identificar quais características pessoais são próprias do indivíduo que as manifesta e quais são moldadas pelo poder presente. 
            Assim, como o poder foi incorporado ao interior das pessoas, ele influencia a maneira de pensar, de agir dos indivíduos. Esse poder não é algo repressivo, mas um poder que busca intensificar a vida, otimiza-la, ele é um poder produtivo.
Nesse biopoder, o poder apresenta-se mergulhado na subjetividade dos indivíduos, apresenta-se bastante profundo de modo a controlar os desejos das pessoas, o sexo, a comunicação, a fé e etc.
            Essa subjetividade, que não nos permite identificar as esferas do poder presentes no interior de cada um, dificulta que as pessoas resistam a essas influências. Com isso, o modo de pensar, a imaginação, a criatividade das pessoas fica comprometida. Isso ocorre, pois, na sociedade atual, o “produto” valorizado é a criatividade, a invenção. Em consequência disso, o poder molda essa criatividade para se beneficiar futuramente. Assim, o ser humano é transformado em um morto-vivo uma vez que ele se mantém em uma zona entre a vida e a morte. De acordo com Agamben, o biopoder contemporâneo, reduz a vida à sobrevida biológica, produz sobreviventes.
           Esse fato pode ser comparado ao conceito de Homo sacer. Na Roma Antiga, a pena de morte para delitos graves era insuficiente. Em consequência disso, o Estado declarava o criminoso um Homo sacer. Isso significava que qualquer pessoa estava autorizada a mata-lo e que ele não teria o direito de ser enterrado. Portanto, o individuo tornava-se “matável”(corpo biológico) e “insacrificável”(corpo espiritual).
       Na sociedade do controle, como o individuo é relacionado a função de produção e consumo, aqueles que não produzem, consomem, são matáveis. Entretanto, o Estado não produz a morte, ele apenas deixa que ela ocorra pois não vale a pena produzir a vida dessas pessoas. No contexto biopolítico, não cabe ao poder fazer morrer, mas fazer viver, otimizar a vida. Agamben vai ainda mais longe ao dizer que ao biopoder contemporâneo não pratica nem o fazer viver, nem o fazer morrer, mas o fazer sobreviver. Ele diz que o biopoder cria sobrevivente, produz sobrevida.
        Ainda segundo ele, a ambição do biopoder é a de separar o zoé e o bios do corpo humano, ou seja, as formas de viver, a vida politica (Bios) do animal (Zoé), produzir a sobrevida.  “A sobrevida é a vida humana reduzida a seu mínimo biológico, à sua nudez última, à vida sem forma, ao mero fato da vida, à vida nua. Mas engana-se quem vê vida nua apenas na figura extrema do "muçulmano", sem perceber o mais assustador: que de certa maneira somos todos "muçulmanos". Esse efeito de muçulmanos em todos, da transformação dos indivíduos em sobreviventes, é uma consequência do biopoder contemporâneo. Na sociedade de controle, a servidão voluntária sustentada pela racionalidade permite que no capitalismo a vitória seja do Animal Laborans (Zoé). Portanto, ocorre uma despolitização dos homens. Hannah Arendt acredita que a Bios está sumindo, restando somente a Zoé. Assim, como foram despolitizados, os homens concentram sua vida animal na sociedade de consumo, no hedonismo.
           Essa sociedade de consumo é caracterizada pelo seu elevado grau de tecnologia, pela produção altíssima e pelo consumo exacerbado. O produzir e consumir é uma das maiores preocupações dessa sociedade que utiliza a mídia para por meio da veiculação de propagandas incentivar, aumentar o consumo. 
          Essa valorização do consumo ocorre pela propagação do conceito de prazer atrelado ao consumo, a posse de bens, principalmente os materiais. Há sempre um produto capaz de facilitar a sua vida de modo a proporcionar maior conforto, maior prazer. Assim, uma pessoa é valorada de acordo com as suas posses, quanto mais ela consome, maior valor ela tem.
      Na sociedade do hedonismo de massas, a cultura é dominada por uma indústria transformadora da cultura em um mero produto. Assim, a industrial cultural propaga sobretudo a diversão, a distração sem estabelecer uma reflexão, uma critica necessariamente. Logo, sem estabelecer um pensamento crítico o indivíduo aceita mais facilmente o que lhe é oferecido, imposto.
           Portanto, a biopolitica do totalitarismo moderno propaga o hedonismo já que a indústria cultural atrelada ao desaparecimento da reflexão política, do Bios, leva os indivíduos a serem moldados por conceitos frágeis, consumistas. Entretanto, essa desigualdade é conveniente para a manutenção dessas sociedades. Como em sociedades muito desiguais o Estado nunca atingirá todos, essa desigualdade material proporciona uma desigualdade na capacidade de pensar. Assim, mantendo-se a desigualdade, atingi-se a capacidade de ganhos do capitalismo. Em consequência disso, todo o tempo livre passa a ser dedicado ao hedonismo, a sociedade do prazer, a manutenção do corpo, a indústria cultural.
     Para alterar esse contexto, basta que os indivíduos rompam o hábito de servir voluntariamente. Entretanto, para isso, precisam saber que estão servindo, o que somente ocorrerá por meio de uma nova educação que os alerte sobre isso.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sorria! Você está sendo filmado!


A sociedade disciplinar era uma sociedade baseada em um poder hierárquico, centrado nas instituições, como a Família, a Escola, a Igreja, a Indústria, por meio das quais destacava-se a figura de um “superior”: o pai, o professor, o padre etc.
        Essa imposição da sociedade de disciplina na massa popular era evidente, as instituições como a coroa e a igreja, por exemplo, mantinham o controle através da força, da censura, da repressão, etc, e formaram um grupo social que aceitava ser submetido à essa opressão. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, da tecnologia, e principalmente dos modelos socio-econômicos e do capitalismo, a sociedade disciplinar se transformou em uma sociedade de controle, onde era necessário a manutenção dessa massa oprimida, visto que a mesma já começava a conquistar um certo nível de influência na sociedade, além de começar a obter uma cultura de acesso muito mais fácil, conforme a sociedade ia se modernizando.

Por sua vez, a sociedade de controle apresenta linhas aparentemente mais tênues, porém, extremamente eficazes. Ao invés do controle exercido por meio das instituições, das figuras disciplinares, os limites para o indivíduo são estabelecidos por toda sociedade uma vez que todos vêem e são vistos. Nessa sociedade de controle os micropoderes das instituições apresentam-se agora sob a tutela do Estado de maneira conjunta. Sendo assim, essa nova forma de controle se mascara em uma série de regras e conceitos éticos e morais que o levam a  determinado comportamento, sem mostrar abertamente sua imposição sobre a massa.
Uma estratégia de dominação presente na sociedade de controle é a difusão do desinteresse pela política. Um dos objetivos dessa sociedade é fazer com que a população não se interesse pela política, não participe da política. Assim, a burocracia, os lentos trâmites característicos do funcionalismo público contribuem para a disseminação desse desinteresse da população.
Soma-se a isso, a estratégia de dominação que exerce uma das mais importantes funções na sociedade de controle, a biopolítica. Essa política é voltada para a vida, sobre a valorização dos benfeitores (produtores, consumidores) e a repreensão dos malfeitores (os que não contribuem para o capitalismo), como foi tematizado por Foucault. Sendo assim, uma política de valorização da saúde pública, do bem-estar social, que valoriza o ser humano, sendo na verdade um bem-estar de fachada, que não mostra o controle que a população é submetida, feliz com o que lhes é dado. Para o trangressor, a morte é conduzida através de exílios, encarceramento, privação dos meios de sobrevivência, entre outros meios de causar não a morte física, mais a morte social de quem vai contra as regras. Essa política se mostra eficaz pois vai de encontro ao pensamento da população.
Além disso, um outro fator importante para que a sociedade de controle surgisse foi a racionalidade. Essa racionalidade permite que os indivíduos concluam estarem sendo representados por meio da democracia participativa que, no fundo, nada mais é do que uma forma de controle. Entretanto, nessa sociedade de controle a individualização da massa, dá lugar a uma massa heterogênea, a população. Essa população diversificada, como foi dito, sente-se representada pela democracia. Assim, os conflitos entre as diferentes classes são resolvidos por meio das leis criadas pelo Estado com o consentimento dos diversos grupos que acreditam, de forma errônea, terem sido ouvidos.
Segundo Deleuze, a sociedade de controle surgiu após a Segunda Guerra Mundial, substituindo a sociedade de controle. Essa nova sociedade é consequência direta das mudanças ocorridas no mundo capitalista. Destaca-se entre essas mudanças, as inovações tecnológicas que são a maior evidência do controle do poder nas sociedades atuais.
Se antes os indivíduos eram vigiados pelas instituições, hoje, o grande número de câmeras espelhados pelos ambientes sociais, os aparelhos celulares, os números de identificação, a internet, etc, servem para vigiar e controlar cada indivíduo de maneira eficaz.
Assim, diferentemente da sociedade disciplinar, em que o controle ocorria em espaços fechados, nas instituições, nessa sociedade, o controle ocorre em todos os momentos, em todos os campos sociais, em todos os espaços da vida pública.
Portanto, não há mais um espaço físico restrito para o poder, ele está presente em todos os lugares. Em consequência disso, ele se demonstra mais eficaz e perigoso pois como atua de maneira disfarçada, sustentado pelas novas tecnologias, é mais controlador.
Logo, a Internet, pode ser considerada um dos maiores símbolos desse controle pois ela concentra diversos tipos de informações a respeito dos indivíduos em seus bancos de dados. Bancos, construídos com o consentimento das pessoas que voluntariamente fornecem suas informações a esses dados de vigilância por meio das redes sociais, sites, blogs etc.
"Sociedade de controle", por Fernando Mourão
Assim, o controle com a ajuda da tecnologia, passa quase que desapercebido, torna-se natural. E presente no cotidiano dos indivíduos, leva-os a  interiorizar esses conceitos e a atuar de maneira concomitante ao Estado como controladores da sociedade.
Também para Deleuze, o homem que vivia confinado na sociedade disciplinar passou a ser um homem endividado na sociedade de controle. Para ele, apesar de ocorrer de maneira diferente, o homem continua sofrendo as mesmas “repressões” de antes. Os sistemas de venda a crédito, os empréstimos, os pagamentos antecipados, os impostos, etc, são formas de endividamento do indivíduo. Por meio dessa dívida, torna-se possível controlar o indivíduo de maneira branda pois, assumindo o compromisso de quitá-las no futuro , ele torna-se parte do mercado, das Instituições a quem deve.
Concluindo, na sociedade de controle os mecanismos de dominação ocorrem de forma sutil, pois uma vez internalizados em cada indivíduo na sociedade como um todo, passam despercebidos pela população. Assim, deixam de existir os muros que separam o público do privado, as instituições dos indivíduos. Em consequência disso, a vigilância ocorre o tempo todo, em todos os lugares, sem a necessidade de uma figura autoritária para isso.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Em Todos Os Lugares Que Vou, Estou Sendo Moldado





Michel Foucault, autor da política clássica, acredita em uma relação de controle a partir de instituições que disciplinam o individuo durante sua formação.

Influenciado por Nietzsche, este autor, não compartilha do conceito de separação entre o bem e o mal manifestado por Platão. Além disso, assim como Nietzsche, utiliza o método da genealogia para seus estudos. Entretanto, no caso de Foucault, esta genealogia envolve uma relação de poder em sua origem e busca a origem das instituições.
O filósofo parte de uma relação entre saber e poder. Acredita que a busca pelo saber envolve a conquista do poder, sendo essa, a finalidade maior da vida humana e intitula a sua conquista como um exercício, não uma aquisição. Para consolidar esta ideia estabelece uma relação entre a Vontade de Verdade de Nietzsche e a Vontade de Poder.
Em relação ao poder, sua ideias diferem em grande parte de outros autores. Foucault não acredita que o Estado tem todo o poder. De acordo com este autor francês, o que mantém o indivíduo “obediente” é muito mais que o Estado. Foucault acredita na teoria de poder disciplinar. Segundo ele, cada instituição tem a capacidade de ir moldando o indivíduo, fabricando-o, tornando-o “obediente”. Neste caso, os mecanismos de controle formam o embrião do poder disciplinar e as micro-instituições exercem papel fundamental para moldar o indivíduo. Alguma dessas instituições citadas por ele são: a família, a escola, a prisão e a religião, sendo que todas essas instituições tem um fim comum: a sociabilidade do ser humano. Não obstante, é a partir das mesmas que a diferenciação dos indivíduos ocorre. Soma-se a essa teoria, o fato deste poder disciplinar englobar o espaço, o tempo, a vigilância e o saber. A vigilância é continua, e portanto,  um dos mecanismos de controle mais evidentes. Esta vigilância apresenta como produto o saber.
Foucault vê o poder disciplinar de forma positiva já que é por meio dele que se impõe uma disciplina aos indivíduos para tornar possível o seu controle, sua dominação. E assim, consequentemente, realizar uma organização da sociedade.
A partir das ideias de Foucault é possível estabelecer um paralelo com algumas ideias de Karl Marx e Rousseau. Para Marx, o ser humano não tem uma própria natureza e para Rousseau, a sociedade o corrompe. Marx, diz então que o indivíduo se torna alienado, mais um instrumento do sistema opressor capitalista.
 Seria essa teoria da Sociedade Disciplinar, descrita por Foucault, como algo que prepara a sociedade para ser disciplinada, possibilitando o progresso.
Nessa sociedade a vigília, com já foi dito, atua como uma constante e o comportamento, que é de interesse dela, se tornaria um habito nesses cidadãos disciplinados. Dessa maneira ocorre uma transição da sociedade disciplinar para a sociedade de controle, onde ainda há disciplina, mas o que impera é o biopoder.
   
Na sociedade de controle, o interesse comum a todas é a vida. Há portanto uma nova política: a biopolítica. A preocupação deixa de ser com o indivíduo disciplinado e passa a ser com a população economicamente regulada. O Estado só preserva o indivíduo caso ele produza e consuma, ou seja, caso ele seja economicamente interessante, viável. Esta sociedade funciona de modo a buscar se tornar cada vez mais rentável.
Neste contexto de preservação da vida, o Estado tem como forma de controle populacional a morte.”Fazer viver, deixar morrer”.
Concluindo,  Foucault considera o poder capitalista como uma das formas aparentes da disciplina, exercendo uma vigilância disciplinar sobre o proletário, com o pressuposto de mantê-los sempre sobre seu domínio, tornando-os passivos e não rebeldes. Este poder capitalista, possui uma positividade no sentido de pretender gerir a vida dos indivíduos e das populações para utilizá-los ao máximo, com um objetivo ao mesmo tempo econômico e político: torná-los úteis e dóceis, trabalhadores e obedientes.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Atenção, Manipulação!




Segundo Karl Marx, no sistema capitalista haveriam mecanismos de dominação, reflexo das divergências existentes no poder econômico das classes sociais. Com o início da propriedade privada, já se iniciou um processo de desigualdade e portanto de subjugação de ações e interesses, processo que só se intensificou com o aprimoramento do trabalho e a criação de um sistema especializado, que começou a gerar lucro para o proprietário.
Marx demonstra que no capitalismo, o proletário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio custo para a sociedade. Assim, o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-valia a base fundamental deste sista à escravidão.
Entretanto, para exercer o seu poder nas sociedades, as classes dominantes utilizam diversos meios de dominação. Nas sociedades contemporâneas existem três mecanismos básicos: os meios de produção (entre os quais a propriedade privada), os meios de administração do Estado e osema. O conceito de sobretrabalho, presente nesse sistema, já estabelecia uma relação de dominação entre o empregador e o proletário trabalhador, que trabalhava uma ínfima parte de seu dia para sí próprio, e o resto para o seu empregador.
Os principais meios de comunicação que propicia a formação da opinião pública. Estão presentes nesses três, a força opressora que delimita a função de determinada classe social hoje em dia, de maneira que há uma convergência onde se é privilegiado tanto pelas medidas tomadas pelo Estado, quanto pelo que circula na esfera pública através dos meios de comunicação em massa, o interesse privado dos meios de produção que sustentam a economia, e consequentemente o sistema capitalista.

O proletário é manipulado pelo capitalista de acordo com seus interesses.


Uma outra forma de dominação que também pode ser associada as ideias de Marx é a ideologia. No contexto atual, os interesses coletivos são ofuscados pelos interesses particulares. Com a valorização do consumismo, os indivíduos tendem a traçar seus objetivos por meio da posse de bens materiais, deixando de lado as noções de classe e os objetivos comuns a elas. Essa valorização do consumismo tem se mostrado um importante mecanismo de dominação para que as elites controlem as classes mais baixas visto que o desejo de ascensão econômica é maior do que o desejo de ascensão política ou ideológica atualmente. Para espalhar essas ideias, as elites utilizam os meios de comunicação pois por meio destas, criam um senso comum a respeito do que deve ou não ser valorizado. Com o uso das mídias, a elite transmite o conceito de felicidade e representação atrelado ao poder de consumo.
Como é possível o lucro? Por que enquanto cresce o numero de mão-de-obra desempregada, mais trabalhadores são demitidos? A sociedade ideal prevista por Marx sem a presença da propriedade privada depende do esclarecimento da população perante a exploração do opressor sistema capitalista. A conscientização do operário de que, na verdade, o capitalista que depende de seu trabalho, é essencial para a mudança desse sistema econômico que cria uma minoria favorecida que impõe o modo de pensar e de agir de uma sociedade. Todavia, o que vemos é uma sociedade conformada com o que lhe é imposto e que lhes permite uma felicidade artificial.


Neste grafite no bairro da lapa, no Rio de Janeiro, critica-se a influência que a mídia impõe a sociedade, além de mancomunar com os grandes capitalistas e as grandes empresas, para assim transmitir suas vontades e mascará-las como vontade do povo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Malditos ou não, cabeças pensantes em meio à população




Os três contratualistas Locke, Hobbes e Rousseau, que foi a base para o pensamento burguês que causou a Revolução Francesa (apesar de Rousseau em si não ser burguês), contribuíram em excelência para o pensamento político contemporâneo. No entanto, suas idéias eram em sua maioria contrárias, principalmente entre Rousseau e Locke, já que para o primeiro a sociedade é maior que o indivíduo, e para Locke é o contrário, já que para o pensador inglês a sociedade tem que fazer o possível para proteger o indivíduo e sua propriedade.     

Para Locke, a propriedade era direito do ser humano natural
  
No campo da natureza humana os pensadores discordam em suas concepções. Para Hobbes o homem não é naturalmente social, é naturalmente perigoso, bélico, egoísta, livre e igual. Já para Locke a natureza humana é boa,racional, livre e igual.  Na visão de Rousseau o homem é bom por natureza. A sociedade que o corrompe.
Ao entrar no ramo da definição de liberdade os autores também não contemplam dos mesmos conceitos. Para Locke o homem é um ser racional e a liberdade não se pode separar da felicidade. A finalidade da política é idêntica à da filosofia, ou seja, a busca duma felicidade que reside na paz, na harmonia, na segurança. Desta forma, não existe felicidade sem garantias políticas, nem política que não de ter como objetivo espalhar um felicidade racional. Na visão de Rousseau  éobedecendo às leis que o homem realiza a sua liberdade: "Um povo livre obedece, mas não serve; tem chefes e não senhores; obedece às leis, mas só obedece às leis; e é pela força das leis que não obedece aos homens." Locke associa liberdade e propriedade, Rousseau liberdade e igualdade. Para Locke, a liberdade é consciência duma particularidade, para Rousseau é em primeiro lugar solidariedade. Para locke, a liberdade é um bem que protegemos, para Rousseau uma possibilidade que realizamos.



Jean-Jacques Rousseau deu origem ao pensamento que levou à revolução burguesa

A definição de Hobbes da liberdade vem do seu sentido físico, onde é livre todo movimento que não se depara com nenhum obstáculo exterior. Diz ainda que o homem não é plenamente livre, e que a verdadeira liberdade é a luta pela vida.
Na discussão da propriedade privada talvez esteja a maior discordância entre os três. A propriedade é para Locke o bem maior, e é função do Estado preservar a propriedade. A propriedade conferiria a felicidade, e a maior felicidade coincide com o maior poder. Hobbes se caracteriza por negar o direito à propriedade. A visão de Rosseau se assemelha, ele diz que a propriedade é fruto da desigualdade gerada pela contrato social.